sexta-feira, 17 de fevereiro de 2023

Trágico: Homem morre após primeira sessão de tatuagem. Polícia investiga alergia ao anestésico

  

A Polícia Civil do Paraná (PC-PR) investiga a morte do vendedor David Luiz Porto Santos, de Curitiba. Ele morreu logo após fazer uma tatuagem no braço. O tatuador é investigado. Em depoimento à polícia, a esposa da vítima, Monike Caroline de Freitas, disse que o marido teve uma reação quase que imediata à lidocaína — substância anestésica usada pelo tatuador.

“Na hora que tava limpando o excesso [do medicamento], meu marido perguntou o que ele tinha passado, e ele [tatuador] falou que era um anestésico. Depois, ele começou a passar mal. O tatuador falou: ‘Dá sal pra ele’. O outro rapaz que tava junto deu o sal, e coloquei debaixo da língua do meu esposo. Meu marido só fazia assim [balançava a cabeça] que não tava bem. Botei a mão no peito dele e falei pro tatuador que ele tava com o peito acelerado.”

 

 

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Com Informações do Vitória da Conquista Notícias

Um vídeo cedido pela família de David à polícia mostra o homem realizando a tatuagem pouco antes de passar mal e morrer. A advogada Graciele Queiroz e o advogado Jefferson Silva, que defendem o tatuador, disseram que não houve irregularidade na aplicação do medicamento e destacaram que ele tem sete anos de atuação no mercado. O laudo do Instituto Médico Legal (IML) não precisou quantas vezes ou em que quantidade o medicamento foi aplicado em David, mas indicou que os exames são “sugestivos para intoxicação exógena por lidocaína”.

O caso aconteceu em 27 de agosto de 2021 e é investigado desde então. De acordo com o delegado Wallace de Oliveira Brito, do 6º Distrito da Polícia Civil do Paraná, o tatuador foi intimado a prestar um segundo depoimento sobre o caso nesta quinta-feira (16). No primeiro depoimento à polícia, o tatuador afirmou ter aplicado a substância após a solicitação de David, o que a esposa nega ter acontecido. Um dos documentos que respalda a investigação da PC-PR é o laudo pericial do IML, que encontrou lidocaína no corpo da vítima. A substância aplicada no corpo do tatuador foi de uso tópico, em forma de spray, com dose de 20%. Segundo resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), a aplicação de anestesias pode ser feita apenas por algumas categorias de profissionais. No caso de anestésicos, o órgão diz apenas que o uso dos medicamentos não pode invadir a competência médica. “É um caso inédito. Pelas circunstâncias, ele [tatuador] violou um dever de cuidado. Quando um profissional faz isso, ele assume risco”, afirmou o delegado. O g1 procurou a família de David, que disse estar abalada e preferiu não se manifestar.

Primeira tatuagem da vida

De acordo com a investigação da polícia, David morreu aos 33 anos, quando fazia a primeira tatuagem. O tatuador disse em depoimento que a arte era grande, composta por vários desenhos, praticamente “fechando” o braço esquerdo do cliente. A esposa de David contou à polícia que, antes de morrer, o marido teve várias reações, como pressão baixa, palidez, batimento cardíaco acelerado, fala embaralhada, veias dilatadas, perda de sentido e convulsão. Os sintomas, segundo ela, apareceram ainda no estúdio, durante a tatuagem. O laudo do IML indica que a intoxicação por anestésico local depende de vários fatores, entre eles a velocidade com que se estabelece a aplicação do medicamento.

“A lidocaína pode ser absorvida logo após a aplicação e seu grau de absorção e porcentagem da dose absorvida dependem da dose total e da concentração administrada, do local de aplicação e do tempo de exposição ao anestésico. A toxidade sistêmica está associada a doses elevadas da medicação”, diz laudo do IML. À polícia, ele disse que aplicou o medicamento em David uma única vez e que, na rotina de trabalho, utilizava a substância apenas em casos em que percebia que o cliente estava com muita dor, o que seria o caso do cliente. Segundo a esposa de David, o marido não reclamou de dor, nem aparentava estar incomodado com a sessão de tatuagem. De acordo com a investigação, a sessão de tatuagem de David começou durante a manhã e foi até a noite, por volta de 21h. Em depoimento ao delegado Wallace, a esposa de David afirmou que o anestésico foi aplicado na região do ombro. Lembrou, também, que as reações do marido começaram pouco após o excesso do medicamento ser retirado pelo tatuador. Para a polícia, em um primeiro depoimento, o tatuador contou que prestou auxílio desde o momento em que David começou a passar mal, orientando o homem e acionando o Samu. Sem resposta rápida do socorro, o profissional disse ter levado o homem a um hospital particular de Curitiba. Afirmou, também, que ficou no local esperando notícias do cliente junto à família. O tatuador disse acreditar que o caso foi uma fatalidade e que, depois da morte, parou de usar lidocaína e qualquer tipo de anestésico em sessões de tatuagem.

O laudo da morte

O laudo do IML só localizou lidocaína no corpo de David — nenhuma outra substância — e indica que a causa da morte é indeterminada. Exames internos e externos da necropsia, entretanto, detectaram mudanças corporais em David. Em um dos exames, o IML aponta, por exemplo, congestão pulmonar e coração aumentado, mas não detalha se o motivo foi a lidocaína. O laudo do IML também contestou a porcentagem de lidocaína presente no medicamento aplicado em David. O laudo diz que “as medicações a base de lidocaína tópica são usualmente vendidas em creme a 4% e spray a 10%”, diferentemente da versão aplicada no cliente, de 20%. O relatório também cita que a vítima tinha bom desenvolvimento muscular e bom estado de nutrição. À polícia, o tatuador afirmou que o medicamento foi manipulado e que apresentou receita para solicitá-lo em uma farmácia. Disse, também, que o produto estava dentro do prazo de validade. O tatuador também afirmou que, antes de fazer a tatuagem, David assinou um termo de consentimento, no qual não declarou alergias nem nenhum problema de saúde.

 

 
 
 

 

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