
A crise que opõe o presidente Jair Bolsonaro e a cúpula do seu próprio partido, o PSL, se tornou nesta quinta-feira, 17, uma guerra declarada com a divulgação de áudios, ameaças e retaliações. Após se movimentar para isolar o grupo do presidente do partido, deputado Luciano Bivar (PE), Bolsonaro sofreu derrotas de peso.O presidente não conseguiu derrubar o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), que depois o chamou de "vagabundo" e disse que vai "implodi-lo". A direção do partido, controlada por Bivar, indicou que vai destituir o deputado Eduardo Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro do comando dos diretórios regionais em São Paulo e no Rio, respectivamente.
Ouça - Delegado Waldir fala em 'implodir o presidente' aos 2:40 no áudio abaixo:
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Apesar de ter tomado proporções inéditas, a disputa interna no PSL se agrava desde o início do ano. Abaixo, uma cronologia dos episódios mais marcantes de desentendimento entre o presidente e seu partido.
A demissão de Bebianno
Após ser alvo de uma longa campanha de difamação, Gustavo Bebianno foi exonerado do cargo de ministro da Secretaria-Geral da Presidência em fevereiro. Coordenador da campanha de Bolsonaro em 2018, ele presidiu a legenda durante as eleições e era o responsável legal por repasses para candidaturas pouco competitivas em Pernambuco, que ficaram conhecidas como candidaturas laranjas. O presidente Bolsonaro pediu investigação do caso.
A crise no governo cresceu quando o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, chamou Bebianno de mentiroso, declaração que foi reafirmada pelo próprio Bolsonaro. O presidente ficou irritado e decidido a demití-lo ao saber que o então chefe da Secretaria-Geral teria mostrado a amigos arquivos de áudio com a voz do presidente ordenando que Bebianno suspendesse uma viagem, além de outras conversas.
Bebianno ocupou a presidência do PSL provisoriamente durante a campanha eleitoral, e devolveu o cargo a Bivar após a vitória. Em uma entrevista concedida ao Estado em agosto, o ex-ministro disse que Bolsonaro "atira nos seus soldados" e previa que expurgos no governo, como o seu caso, não iriam cessar.
PF e MP investigam Bivar em Pernambuco
Em fevereiro, Luciano Bivar (PSL-PE) já era alvo de investigação que apurava se ele havia praticado caixa dois durante sua campanha em Pernambuco. O inquérito foi aberto pela Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco, com foco no uso de recurso do fundo partidário para contratar a empresa de um de seus filhos . A Procuradoria também investigava o recebimento de doação de R$ 8 mil de uma pessoa desempregada há mais de quatro meses. O caso foi revelado pelo Estado.
No mês seguinte, a Justiça Eleitoral autorizou a Polícia Federal a investigar a suspeita de que uma candidata do PSL pernambucano, Maria de Lourdes Paixão, teria atuado como "laranja" para receber R$ 400 mil de verba pública eleitoral. Secretária do PSL em Pernambuco, ele teve apenas 247 votos na briga por uma vaga da Câmara dos Deputados em 2018, mas recebeu a terceira maior cota do fundo eleitoral do partido.
O Estado apurou que denúncias contra Bivar acabaram irritando Bolsonaro.
PSL contraria governo em votações
A bancada do PSL na Câmara teve problemas de coesão desde o começo da legislatura. Sem controle sobre a pauta da Câmara dos Deputados, o governo abriu mão de orientar o voto de seus aliados em 31% das votações realizadas nos primeiros cinco meses de mandato. A alta "taxa de omissão" indica que, praticamente, uma em cada três propostas em tramitação não era de interesse do Palácio do Planalto - ou que o líder do governo preferiu não se manifestar por haver risco de derrota.
Análise do Basômetro, ferramenta do Estado que mede o governismo de deputados e partidos, mostrou que nesse período o presidente do PSL, Luciano Bivar, só apareceu em 11% das votações nas quais o governo orientou sua base a aprovar algum projeto na Câmara.
Houve momentos em que o PSL chegou a contribuir para a derrota do governo, como na aprovação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que engessou parte maior do Orçamento e tornou obrigatório o pagamento de despesas que podiam ser adiadas, como emendas de bancadas estaduais e investimentos em obras. A proposta, encarada como exemplo da falta de controle do governo na Câmara, teve votos favoráveis do PSL.
Alexandre Frota é expulso
O deputado federal Alexandre Frota (SP) foi expulso em agosto dos quadros do PSL. Frota vinha fazendo críticas à legenda e ao governo de Jair Bolsonaro, e chegou a dizer que o presidente era sua "maior decepção" e que a indicação de Eduardo Bolsonaro. O deputado foi criticado, sobretudo, por se abster na votação do 2º turno da Previdência, o que foi considerado uma "traição" à legenda.
No pano de fundo da expulsão, havia uma disputa pelo controle de diretórios municipais do PSL em São Paulo, entre o grupo político do senador Major Olímpio e parte dos parlamentares não ligados à bancada militar, no qual Frota estava incluído. A saída abriu precedente para que outros parlamentares entrassem na mira do partido.
Frota não era o único que criticava a linha de Bolsonaro no partido. O próprio líder do PSL na Câmara, deputado Delegado Waldir (GO), já havia criticado a influência que o escritor Olavo de Carvalho tinha sobre o governo. "O presidente não pode ficar à mercê dessas pessoas e pegar a opinião do 'louco do dia'", disse.
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Foto: Edison Rodrigues/Agência Senado / Estadão Conteúdo
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