Foi publicada no Diário Oficial do município de Tanque Novo, a exoneração de 124 servidores, devido a suspeita de fraude no concurso público realizado em 2015. Em nota ao Correio da Bahia, a prefeitura de Tanque Novo informou que “hoje [sexta-feira, 03 de maio] apenas foi publicada a decisão do processo administrativo, sendo que as exonerações serão publicadas nesta segunda-feira (06/05)”. Realizado pelo ex-prefeito José Messias Carneiro (PMDB), o Dedé, o certame de 2015 previa 55 vagas e foi à frente mesmo com recomendação contrária do Ministério Público da Bahia (MP-BA), que viu suspeita de irregularidades no edital do concurso. No ano seguinte, quando ocorreram eleições municipais, Dedé fez novas convocações, além das previstas no edital. Conforme a publicação, supostamente, ele tinha como objetivo influenciar na eleição do sobrinho Paulo Ricardo Bonfim Carneiro (MDB). Nas eleições, contudo, quem saiu vencedor foi o atual gestor Vanderlei Marques Cardoso, que logo que assumiu o cargo mandou criar uma comissão para investigar o concurso. Um relatório inicial, publicado em setembro de 2017, apontou diversas irregularidades, como 61 cartões de respostas das provas supostamente preenchidos por uma só pessoa. A comissão mostrou que havia diferença de tinta de caneta usada na assinatura dos candidatos e no preenchimento dos quadros de respostas do gabarito, e que “tais evidências são sugestivas de fraude”. Outro fato relevante para a comissão é que a assinatura da candidata à vaga de enfermagem Suziane Pimenta Carneiro, sobrinha do então vice-prefeito Sebastião Pimenta, estava em dois cartões de resposta - um dela mesma e outro de Silvia Maria de Souza. Suziane foi convocada. Amparado em decisão liminar (temporária) de primeira instância, que em novembro de 2017 suspendeu a validade do concurso após ação civil pública do MP-BA, baseada também no relatório, Cardoso exonerou em dezembro de 2017 os 124 concursados. Os servidores recorreram ao TJ-BA, que em 27 de novembro de 2018, por meio da desembargadora Carmem Lúcia Santos Pinheiro, da Quinta Câmara Cível, determinou que eles fossem reintegrados. Segundo ela, á época, eles não tiveram direito ao contraditório na investigação realizada pela comissão da prefeitura de Tanque Novo. Por outro lado, a desembargadora reconheceu a decisão de primeiro grau que determinou a suspensão do concurso devido às irregularidades, manteve-o suspenso e determinou que a prefeitura se abstivesse de convocar ou nomear novos candidatos. As supostas irregularidades apontadas no concurso de Tanque Novo, pelo relatório da comissão da prefeitura, iniciaram na fase da licitação interna para escolha da empresa que realizaria o certame. Nesta fase, apresentaram cotações de valores a FJ Futura, a Alpha Concursos e o Instituto de Estudos Pesquisas e Desenvolvimento Municipal (IEPDM), entre as quais, diz a comissão, havia relações familiares e profissionais. A vencedora foi a empresa FJ Futura, de propriedade de Fabiano de Sá Alves, irmão do dono da Alpha, Altamir Alves Júnior. As duas empresas possuem endereços idênticos em Vitória da Conquista e na cidade vizinha de Barra do Choça. O advogado Luciano Sepúlveda, ao ser questionado pelo Correio da Bahia sobre o que motivou o aditivo que elevou o valor do concurso em mais de R$ 100 mil, afirmou que o aumento de custos não foi irregular. Ele explicou que o valor engloba um pagamento direto pela prefeitura e um percentual das inscrições. “Isso é natural, não se sabe os custos, uma vez que eles são diretamente ligados ao número de inscritos”, disse. “Se houver mais inscritos, terá mais custos e vice-versa. Mas o valor não saiu dos cofres do município, e sim de um percentual das inscrições. Tudo isso consta no contrato que foi publicado no Diário Oficial, não foi feito às escondidas”, afirmou. Sobre as relações familiares e profissionais entre as empresas e do dono da Alpha com o ex-prefeito Dedé, o advogado disse que “a Alpha forneceu cotação de preços, mas não concorreu com a FJ Futura”. Para o advogado, “mesmo que as empresas tivessem disputado a mesma licitação, não haveria ilegalidade nisso, já que a lei federal que a regulamenta [nº 8.666/93] não proíbe essa situação.” As supostas irregularidades encontradas nos cartões de respostas pela comissão da prefeitura que investiga o concurso são, para o advogado, “inverídicas e motivadas por disputas políticas do município, cuja empresa que represento está sendo envolvida”. O advogado Eder Adriano Neves David, que atua na defesa dos servidores, criticou o processo administrativo realizado pela prefeitura de Tanque Novo. “Finalmente o prefeito Vanderlei Cardoso (PCdoB) cumpriu a ameaça. Absurda essa decisão”, reclamou. Segundo o advogado, o prazo de alegações finais encerra em 22 de maio, conforme o novo Código do Processo Civil. "Eu estava preparando as alegações finais. Vamos entrar na Justiça para reaver essa decisão”, afirmou.
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